Completando 100 anos, oeirense não abre mão de cerveja e carnaval

Foto: Carlos Rubem

Era início do século XX quando uma menina pobre, negra e sozinha chegava ao centro urbano de Oeiras, tangida pela seca e pela fome que rondavam a localidade Jenipapo – hoje município de Itainópolis – onde morava com a família. “Não vim mais com mãe, não. Nem vó nem nada, já tinha morrido tudo”, comenta Luzia Josefa da Conceição, que em outubro de 2017 completa 100 anos de vida.

Sentada numa cadeira na calçada de casa, no Bairro Rosário, a mulher vê, sem pressa, horas e pessoas passarem, enquanto nos recebe para uma entrevista. “Vim pequena pra cá”, acrescenta. Morando de favor na casa de uma prima, começou a trabalhar ainda criança, como cozinheira numa ‘casa de família’. “Passei um mês lá, ou foi dois. Depois fui trabalhar na casa de outra família. E de lá cai na gandaia”, conta, sorrindo.

‘Cozinheira de mão-cheia’, Luzia trabalhou durante alguns anos na cantina do Oeiras Clube, casa frequentada pela elite oeirense, à época. Servia tira-gostos em troca de alguns ‘cruzados’. “Ganhava as gorjetinhas do jogo”, relembra Luzia, narrando histórias de figuras ilustres que visitavam o clube. Depois dali, já com dois filhos para sustentar, Luzia trabalhou como gari. “No tempo que Waldemar [Freitas] era prefeito eu varria as ruas”, narra.

Luiza não esconde a saudade das festas e namoros que lhe rendem hoje boas lembranças e altas gargalhadas. Prestes a celebrar cem anos, a ex-cozinheira também não disfarça o apetite sexual e gosto pela cerveja. “Não tem coisa melhor que isso [sexo] não, só cerveja. Tô velha, mas tô boazinha, naquela base”, sorri.

Foto: Carlos Rubem

Outro prazer de Luzia é o carnaval. “A primeira roupa que eu vesti, veio de Simplício Mendes para eu dançar”, diz ela, entregando que foi baiana dos Foliões do Samba, bloco carnavalesco formado por moradores do Bairro Rosário. “Esse ano eu não vou, as pernas não aguentam mais”, diz, conformada.

Com dois filhos, 11 netos e 14 bisnetos, Luzia conta que nunca viveu relacionamentos longos. Jamais se casou.

Foto: Carlos Rubem

– E, hoje, como é vida da senhora?, pergunta o Mais Oeiras.

“É sentada”, responde entre gaitadas. “Não faço mais nada, não. Até o de comer já vem pronto da casa do filho”, diz Luzia, acrescentando que confecciona tapetes – feitos com saco de estopa e retalhos de pano – para presentear amigos e familiares.

“Eu acho que a minha velhice deu o tempo pra eu me aquietar. Hoje, o prazer que eu tenho é sentar, beber minha cerveja e receber minhas visitas”, exalta Luzia.

1917

Embora garanta que tenha nascido em outubro de 1917, informações dos documentos de Luzia Josefa da Conceição apontam como data de seu nascimento dezembro de 1918. “Meus papel tá tudo errado, tu acredita?! Eu completo em outubro 100 anos. A carteira de trabalho tá errada…”, contesta a aposentada.

 

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Jadson Osório

Repórter

2 Comments

  1. Tenho um amor enorme por ela pois se hoje tenho o apelido de pelado foi ela que pois antes mesmo de vim ao mundo….pois minha mãe estava grávida de mim e ela falou para minha mãe Meire e um menino e vai nascer careca o apelido já e pelado….pois tenho orgulho do meu apelido pois não foi colocado por qualquer pessoa foi pro lulu e assim que chamo

  2. Ótima matéria. Bonita a a história de Dona Luzia. Bom saber que não se queixa da vida e ainda toma uma cervejinha apesar dos 100 anos de idade.

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